Nada incomoda mais os não-pobres (sejam ricos ou se achem ricos) que se mistrurar com pobres, reparem.
O que não falta em São Paulo são as áreas “pobre free”. Temos shoppings e lojas acessíveis apenas para quem anda de carro ou táxi, com o Cidade Jardim e a Daslu (eles não tem entrada para pedestres, tirando a de serviço).
Nossos bares e baladas se orgulham de dizer que são freqüentados por um público “selecionado” e impõem regras de vestimenta para regular o “nível” do público.
Agora são os nossos clubes, lindíssimos, o verdadeiro ponto alto do isolamento da elite. No Paineiras, Paulistano, Pinheiros, o novo sócio precisa de recomendação para entrar e os títulos chegam a custar mais de R$ 180 mil. Não tem o menor perigo de você, nata da sociedade, ter de conviver com pessoas de “nível inferior”.
Talvez seja isso que incomodou um sócio do clube Pinheiros quando viu uma moça que claramente não pertencia à sua classe social sentada em um banco perto da piscina, segundo nos conta essa matéria da Folha.
Ela era uma das várias babás de filhos de sócios, encarregadas por levar as crianças ao clube para brincar. Apesar de não serem sócias, elas tem permissão para entrarem como “acompanhantes” de menores de idade.
Não vou nem entrar no mérito do fato de as babás terem assumido um papel maior que o da mãe na criação dessas crianças. Isso é assunto pra outro dia.
A questão aqui é que o senhor sócio ficou incomodado e constrangeu a moça, pedindo que se levantasse. Aquele banco não era para empregados (ainda que ela não fosse empregada nem do clube nem dele).
Conta a reportagem que não foi apenas esse senhor que se sentiu incomodado. Por conta de reclamação de outros sócios, incomodados com a presença dessas babás, foram instituídas algumas regras.
As babás devem estar permanecer identificadas o tempo todo, com uniforme (trajes brancos e sapato branco fechado) e crachá de “acompanhante” no pescoço.
Elas não podem entrar no restaurante sem estarem acompanhadas dos patrões e, se estiverem incomodando os sócios em alguma área comum, devem fazer o favor de se retirar.
Disse uma patroa que escreveu ao clube reclamando da obrigação da babá que cuida de seu filho precisar usar uniforme no clube, já que nem a patroa exige isso dela em sua casa. O clube respondeu que regra é regra.
Ela não entendeu a regra, ao que parece. As babás não são funcionárias do clube, que, como em qualquer outro lugar de serviço a pessoas, usam uniformes para serem identificados pelos usuários. Elas também não são empregadas dos sócios que reclamam.
Não. O objetivo de as babás usarem uniforme é serem diferenciadas e não se “misturarem” com os sócios, os verdadeiros merecedores de todo o deleite que um clube oferece. Elas precisam usar uniforme para que elas mesmas saibam, o tempo todo, que não pertencem ao grupo.
É fácil olhar para uma reportagem dessas e ficar indignada com os ricos sócios dos clubões. Eles é que são os preconceituosos segregacionistas.
Mas me diga uma coisa: você concorda que as empregadas domésticas dos apartamentos do seu prédio tenham que usar a entrada e o elevador de serviço, espaço que também é reservado para quem leva animais ou objetos de mudança e reforma? Mesmo que elas não estejam levando animais, mudança, compras nem qualquer coisa ligada a serviço? Seu elevador “social” é sua área pobre free?