Uma jornalista me ligou hoje para conversar sobre relacionamento aberto (não monogâmico) e eu percebi que nunca falei muito claramente sobre esse assunto aqui no blog. Pois bem… Vamos falar de relacionamento aberto?
O que é
Relacionamento aberto é quando há um acordo entre as duas partes de não exclusividade sexual. Isso significa que cada um pode ficar com outras pessoas, se quiser, e, mesmo assim, os dois tem entre si um relacionamento. Existem namoros abertos e até casamentos abertos. Muitas pessoas preferem a discrição e não falam da existência desse acordo com amigos e familiares, para se preservar de julgamentos e críticas desnecessários.
Existem outras vertentes mais liberais, como as relações livres, o poliamor, em que não há exclusividade amorosa/relacionamental (as pessoas tem relações amorosas com mais um parceiro ao mesmo tempo, de forma declarada, e alguns relacionamentos tem mais de duas partes). Desse formato, não posso falar muito porque não conheço, mas nos links acima vocês encontram muita informação.
É diferente do relacionamento aberto nesse ponto: no relacionamento aberto, há um acordo entre as partes que estipula que o relacionamento dos dois é o “eixo”, e há uma hierarquia entre a relação, considerada principal, e os dates, considerados relações secundárias.
O que não é
Digo que relacionamento aberto é quando há um acordo porque o que mais existe por aí é relacionamento “aberto de um lado só”, que é quando a relação é tradicional, porém um dos lados trai o outro, fica com outras pessoas escondido. Isso não é relacionamento aberto, é traição. Acho uma desonestidade e uma tremenda sacanagem com outro, tanto por enganá-lo quanto por lhe negar a mesma oportunidade.
Como funciona
A premissa do relacionamento aberto é a não exclusividade, porém a mecânica muda de casal para casal. Não existe um livrinho de regras. Tem alguns casais que preferem não comentar um com o outro sobre quando ou com quem estão saindo. Eles sabem que existe essa abertura, então não estão mentindo, mas também preferem não saber detalhes.
Outros casais preferem a transparência. Quando estive em um relacionamento aberto, era assim. A gente falava pro outro quando tinha date, as datas, os nomes dos dates. Até endereço de onde era eu compartilhava, até por uma questão de segurança. Eu sempre preferi não ter nada escondido, era o que funcionava para mim.
Cada casal estipula também se o outro pode vetar alguém ou não, se há uma lista proibida (exemplo: amigas dela, amigos dele, ex etc.), se haverá dias da semana em que dates são liberados e por aí vai. Cabe a cada casal definir as regras do jogo de seu relacionamento aberto. As únicas exigências são respeito e honestidade.
Alguns optam por abrir espaço para não-monogamia esporádica, apenas quando estão juntos, como frequentadores de casas de swing ou praticantes de sexo a três ou mais. Nesse caso, não é exatamente um relacionamento aberto, é mais uma monogamia com exceções, uma fantasia conjunta.
Por que experimentar
Eu acredito que é completamente normal a gente sentir atração sexual por mais de uma pessoa, mesmo quando estamos em um relacionamento amoroso com uma única pessoa.
O relacionamento aberto é uma opção legal para quem quer ter a liberdade de transar com outros sem mentir nem enganar e que aceita que o mesmo valha para o parceiro. Aliás, esse formato só serve para quem topa igualdade. Relacionamento aberto é uma via de mão dupla.
Se você acredita que uma pessoa não deixa de amar a outra só porque transa com uma terceira (sem mentiras, sem enganação, de maneira honesta e previamente combinada), então o relacionamento aberto é uma boa para você.
Se você se sente preso em um relacionamento tradicional, sente que seu desejo e sua sexualidade são limitadas, mas gosta de ter um relacionamento amoroso também, o relacionamento aberto pode ser uma boa para você.
Se vocês estão em um relacionamento à distância e não querem nem terminar nem abrir mão de sexo, esse formato pode ser legal para vocês. Conheço alguns casais que “sobreviveram” a distâncias longas, por períodos longos, assim e foram felizes.
Se você é uma mulher em busca de maior empoderamento em relação ao seu corpo, em busca de maior diversidade na vida sexual, cansada de parceiros ciumentos e de relações machistas em que se sentia dominada e limitada, e tem sentimentos em relação a uma pessoa mas não quer abrir mão da “liberdade” da solteirice, esse pode ser um bom formato para você.
Por que não experimentar
Relacionamento aberto só serve para quem gosta desse formato. Se o parceiro quer e você não, acho uma tremenda furada aceitar.
Mesmo que você tenha vontade de ficar com outras pessoas, é preciso antes avaliar se você topa que o outro tenha a mesma liberdade. Ciúme é um grande entrave para qualquer relacionamento e não pode ser ignorado, se não vira uma coisa monstruosa e, quando emerge, faz estrago.
Relacionamento aberto tem cara de coisa moderninha, mas não se engane. Não é “mais evoluído”, “mais certo” nem nada disso. É bom para quem acha bom e ruim para quem prefere monogamia. Tem gente que se sente mais seguro e feliz em monogamia e tem gente que não se sente ameaçado nem preterido em relação aberta.
O segredo é o diálogo e a honestidade e a coragem de avaliar se é o que você quer pra sua vida e pra sua relação e se os dois estão em acordo.
Eu acredito que ninguém deve se submeter nem a relacionamento aberto nem a monogamia se não estiver se sentindo confortável com isso.
É muito mais fácil começar um relacionamento aberto que transitar de um monogâmico para um aberto, mas já ouvi histórias de casais que decidiram abrir ao longo da relação. Para alguns, a “abertura” salvou a relação, e para outros, destruiu.
Dúvidas
Enfim, espero que tenha ajudado a esclarecer um pouco esse assunto que é um tabu pra muita gente. Tem dúvidas? Deixa um comentário que eu respondo!
Ilustração: da talentosíssima ANNA SUDIT, publicada originalmente aqui.
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Muitos casais relatam que relacionamentos abertos os aproximam. Isto está apoiado por um estudo de 2014 publicado na revista 'Sexual and Relationship Therapy' que concluiu que os adultos mais velhos em relações abertas relataram ser mais felizes, mais saudáveis e mais sexualmente ativos do que a população em geral de idade semelhante e status de relacionamento.
Gostei.
Nao e uma resposta mas uma pergunta.
Meu namorado amo o muito e ele a mim...
Fez me a proposta de relacao aberta., estarmos com outras pessoas partilhar fotos e videos do genero de nos provocarmos.
So que eu sinto ciume de ver fotos de outras ...
A pergunta é...
Ele quer k eu esteja com outro homem e partilhe porque lhe da tesão.
E diz que me ama....e possivel??? Nao consigo perceber o que se passa na cabeça... quero entender pela experiencia de outras pessoas que vivam e tenham vivido este tipo de experiências para me ajudar a entender....obrigada
Oi, Radija. Existe um tipo de "fetiche" chamado "cuckold", em que o homem se excita com a idéia de ver sua parceira com outro homem, como se ele estivesse sendo traído. Isso não significa que ele não te ame, fetiches são assim, a gente sente vontade de fazer/ver umas coisas que não sabe explicar... Mas, tirando o julgamento de lado, o mais importante aqui é que VOCÊ se sinta confortável. Você não tem nenhuma obrigação de satisfazer as fantasias do seu namorado se elas te colocarem em uma posição desconfortável. Se você não tem vontade de ficar com outra pessoa e ainda por cima deixá-lo ver, diga não. O mesmo vale para liberá-lo para ficar com outras mulheres. Se te dá ciúmes e você não gosta, não é obrigada a aceitar nem concordar. Digo isso para todo e qualquer fetiche. Existem pessoas que fantasiam em fazer sexo a três, outras gostam de "role play" (quando o casal finge ser outras pessoas, como se fosse em um filme), dominação, sadomasoquismo e um monte de outros fetiches que muita gente acha estranho. Acredito que não tem nada de errado em ter fetiches e é super saudável conversar sobre eles entre o casal. Porém ninguém é obrigado a entrar no fetiche do outro se isso gera desconforto! Se a gente se força a fazer o que o outro quer, mesmo não querendo, mas para demonstrar que o ama, a gente faz mal a nós mesmos. Um beijo e boa sorte para vocês!
Gostei desse post. Simples e bem direto. Atualmente, ando nesse dilema. Digo isso porque, recentemente, minha esposa lançou uma pergunta bem direta. Ao ouvir minha resposta sobre uma reportagem a respeito de um filme do meu interesse, citando um caso clássico em que o personagem principal acaba se apaixonando por outra enquanto ainda tinha uma relação estável, ela perguntou: "É um relacionamento aberto?", no que respondi. "De repente é. Se tiver sido de comum acordo...".
Foi então que ela mandou outra pergunta, direta, enquanto estava no computador trabalhando, mas com um sorriso no rosto: "E se a gente abrir a relação?". Achei que fosse brincadeira e não levei muito a sério, mas embarquei na vibe: "É algo que você tá querendo?". E ela: "Não. Eu te fiz a pergunta primeiro. Você quer?". Sem saber o que dizer, comentei apenas que era algo no qual eu ainda não tinha pensado. Ela ainda insistiu: "Mas você quer?" Eu insisti que não sabia, porque nunca pensei sobre isso. E ficou por isso mesmo. Mas sem crise, sem estresse.
A minha dúvida aqui é: Essa pergunta foi feita a mim como um teste, no sentido de que ela tem interesse no assunto e deseja saber se eu também quero, para saber se podemos conversar e dar início aos acordos? Ou pode ter sido apenas um comentário nada a ver, despretensioso?
Eu até poderia voltar com esse tema em um momento mais relax, para ter a certeza de que a ideia é pra valer, mas ao mesmo tempo tenho receio de que a reação dela seja o contrário, como se ficasse espantada por eu ter levado a conversa anterior a sério. O que fazer em uma situação dessas?
Andrew, situação realmente difícil a que você ficou. Afinal, se for um "teste", pode ser que sua resposta sincera não seja o que a esposa esperava ouvir e isso desencadeie uma briga - ainda mais se ela tiver inseguranças e sentir que o interesse em um relacionamento aberto signifique que você não a ama mais. Mas, na minha humilde opinião, um bom relacionamento é aquele em que há espaço para diálogo sincero, mesmo que o que o outro pense ou sinta não seja a mesma coisa que a gente pense ou sinta. Então, eu no seu lugar puxaria o assunto de novo sim, dando minha opinião e lidando com a reação - inclusive aproveitando a conversa para esclarecer inseguranças, medos e etc dos dois. Abraço.