Esses dias li notícias muito semelhantes e curiosas sobre a relação difícil dos homens com os decotes femininos.
Renata Fan, por exemplo, é uma jornalista de mão cheia, entende de futebol e tem um emprego cobiçado por muito repórter esportivo. Mas para seu colega de programa, o ex-jogador Neto, que, corrijam-me se estiver errada, fica muito atrás em termos de educação acadêmica e talento para jornalismo televisivo, Fan não passa de uma mulher bonita e gostosa.
Neto constrangeu Fan esses dias pedindo que moça “levantasse o decote”, por que ele estaria “desconcertado”. E não é a primeira vez que o engraçadinho abre a boca pra “elogiar” (tá mais para “assediar”) a jornalista. Outro dia, soltou a pérola “Se eu revelasse meus pensamentos, você estaria pelada”. Finesse, não?
Achei curioso que, no mesmo dia, estava em destaque na home do UOL a notícia de que o Parlamento canadense, incomodado com o decote da deputada Rathika Sitsabaiesan na foto oficial que aparece na área de deputados do site oficial do Parlamento, “photoshopou” a foto e escondeu o decote (apagando a linha que separa os seios e “subindo” a gola da blusa).
Nunca tinha ouvido falar da moça, mas, fuçando o verbete sobre Rathika na Wikipedia, descobri que é a primeira mulher não-branca em sua posição e também a primeira representante da sua etnia (tamil, que eu também não conhecia) no Parlamento, além de ser a mais nova (29 anos).
Puta papel importante dona Sitsabaiesan está desempenhando. Mas os seios da moça incomodam o parlamento, que acha que não é adequado uma pessoa na posição dela deixar aparecer quatro dedos de “entrepeitos”.
Nos dois casos, a mensagem é a mesma: seios são símbolo sexual e não são compatíveis com situações sérias.
Enquanto um homem pode andar de peito nu em um parque, num dia de calor, espera-se que a mulher dê um jeito de esconder os seios quando está amamentando em público. E mesmo enquanto ela está totalmente vestida, seu decote deve ser controlado, para não “desviar” a atenção dos homens sérios à nossa volta, que são fisiologicamente incapazes de controlar o desejo sexual que é despertado.
Isso me lembra uma discussão levantada em um Outubro Rosa, durante as ações de conscientização contra o câncer de mama sobre o papel dos nossos seios, e destaco um trecho do post da Sam Shiraishi a respeito: “Ainda tem muita mulher que vê os próprios seios como atrativo para o homem, inveja para as mulheres ou simplesmente o alimento do filho. Fora destes contextos, é de ninguém”.
Me incomoda muito o fato de que os homens envolvidos nos dois casos, de Fan e Sitsabaiesan, acharem que pedaços de seios à mostra em inocentes decotes sejam uma provocação.
O que incomoda, de fato: a idéia de que o homem seja fisioligicamente incapaz de domar seus próprios instintos sexuais quando vêem um par de peitos ou o fato de uma mulher, simbolizada nesta parte tão única e feminina que é o seio, estar ocupando um lugar que nada tem a ver com sexo ou maternidade?
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O que incomoda é o fato do homem ser *culturalmente* (não fisiologicamente) incapaz de domar seus impulsos e também a ideia de que é *inadequado* uma pessoa em posição de respeito ter seios ou qualquer atributo não masculino.
[]’s
Cacilhας, La Batalema
Pois é, Batalema: eles "sentem-se" fisiologicamente incapazes. Um dos mitos mais machistas, aliás, é esse!
Eu sou homem, aprecio um belo par de seios, e não me sinto incapaz -- nem fisiologicamente nem culturalmente -- de me controlar quando vejo um.
Claro que olho discretamente (os olhos são meus e a rua é pública), mas nunca de maneira que constranja a dona dos atributos.
E tem dado certo.
Você quer um "parabéns" por não fazer mais que sua obrigação de respeitar as pessoas?