Estava à toa em casa, querendo assistir um filme legal na Netflix, meio bobinho até, qualquer coisa divertida e leve para me distrair, e escolhi o filme francês “Eu Não Sou um Homem Fácil” (Je Ne Suis Pas un Homme Facile, 2018, da diretora Eléonore Pourriat). Fui positivamente supreendida.
O filme conta a história de Damien (Vincent Elbaz), um homem solteiro, bem-sucedido, bonitão e mega machista vivendo em Paris. Ele assedia mulheres no trabalho e na rua, faz piadinhas machistas o tempo todo, trata mulheres com troféus, que ele “coleciona”, sumindo depois que consegue conquistar. Basicamente, um homem branco hétero cis surfando na onda do próprio privilégio. Até que um dia, Damien bate a cabeça e acorda em uma realidade invertida: em vez do patriarcado, são as mulheres que “dominam” o mundo.
Nesse universo matriarcal, são as mulheres que ocupam os melhores cargos nas empresas, colecionam homens, traem, e os homens que vivem preocupados com aparência, em serem delicados, não virarem solteirões, cuidam dos filhos e tem dificuldade para voltar ao mercado de trabalho depois da paternidade.
É interessante acompanhar Damien se envolvendo com Alexandra (Marie-Sophie Ferdane), uma mulher que se comporta como um homem nos dias de hoje e questionando o papel que ele mesmo sempre fez a vida toda, porém da perspectiva contrária. O papel do irmão de Damien, Cristophe (Pierre Benezit) também é hilária.
A premissa da troca de papéis entre homens e mulheres é tão clichê que jamais achei que poderia ser um ótimo filme. Mas quanto mais a história se desenvolve, mais percebemos o tanto de liberdade que a sociedade machista tira das mulheres, o quão absurdas são as exigências que nos colocam nas costas. Fica clara a relação de poder entre homens e mulheres e a verdade dói. É tudo tão caricato e tão absurdo (imagine um homem sendo constrangido no trabalho porque está de camiseta branca e dá para ver seus mamilos?) que deixa a gente se perguntando: como é que a sociedade aceita que uma coisa ridícula dessas aconteça com as mulheres? É como se alguém estivesse desenhando do modo mais didático possível o que é sexismo e mostrando como a desigualdade entre gêneros é nociva.
De uma maneira engraçadinha, Eu Não Sou um Homem Fácil nos faz questionar os machismos do dia a dia e o impacto que causam na nossa vida, na saúde mental, no mercado de trabalho e nas relações pessoais. Com o plus de ser um filme francês e fugir do formato batido dos filmes americanos. Super recomendo!
Curiosidade: esse filme me fez lembrar um curta chamado Maioria Oprimida (Majorité Opprimée), que postei há alguns anos aqui no blog. Pesquisei e descobri que é da mesma diretora. Imagino que foi dele que se orginou!