Saúde

Neuropatia periférica e outras doenças ortopédicas: como estou hoje

Faz quase 15 anos que fui diagnosticada com neuropatia periférica no nervo fibular (também chamada de “pé caído”) e outros muitos anos que publiquei meu relato aqui no blog e, sem querer, criei a maior comunidade de pessoas com esta doença na internet. Hoje, venho contar como ficou meu pé e quais as sequelas.

O que é neuropatia periférica

Como não sou médica, busquei a definição de quem entende do assunto.

“A neuropatia periférica é uma condição que afeta os nervos periféricos, responsáveis por encaminhar informações do cérebro e da medula espinhal para o restante do corpo. Isso pode causar perda da sensibilidade, debilidade e atrofia muscular, principalmente em mãos e pernas.”

Fonte: site da clínica especializada em neurologia Araújo & Fazzito.

O que é neuropatia fibular

O meu diagnóstico foi de paralisia no nervo fibular, um tipo de neuropatia periférica. No mesmo artigo, o site da clínica explica o que isso significa:

“O nervo fibular é um ramo do nervo ciático que vai para perna e é responsável pelo movimento dos músculos e pela sensibilidade no pé, a paralisia causa a perda ou diminuição da sensibilidade no dorso do pé na parte anterior da perna, além da paralisia muscular com déficit na capacidade de elevar o tornozelo.”

Fonte: site da clínica especializada em neurologia Araújo & Fazzito.

Agora, nas minhas palavras: é uma doença também chamada de “pé caído”, em que a gente perde força e movimentos do pé e não consegue fazer direito o movimento de levantar o peito do pé, resultando em dificuldade para caminhar (é normal tropeçar, mancar e se cansar muito ao andar).

Como é ter neuropatia periférica?

No post Como descobri, tratei e “sarei” da neuropatia fibular, conto toda a minha saga do diagnóstico da neuropatia periférica à alta, passando pelos exames, tratamentos, medicamentos e a órtese que usei por muito tempo.

Neuropatia periférica periférica é reversível?

Bom, como disse, não sou médica, apenas uma pessoa que teve a doença, então só posso falar sobre a minha própria experiência. Como contei no post Como descobri, tratei e “sarei” da neuropatia fibular, após tratamento e fisioterapia, recuperei quase completamente o movimento do meu pé.

Como é a vida depois da alta da neuropatia

Hoje, escrevo para contar como é a vida depois da alta da neuropatia periférica ou neuropatia fibular. Como ficou meu pé, quais são as sequelas, que atividades físicas eu consigo ou não fazer, quais tipos de sapatos eu posso ou não usar.

Possíveis sequelas de neuropatia periférica e outros problemas que tive

Sobre dificuldade para andar e correr

Vamos começar falando de sequelas. Eu contei no post original que meu pé tinha voltado a uns 80% do normal e hoje, diria que está em uns 90%. Nunca mais realizei o movimento de levantar o pé afetado exatamente igual antes, mas também não tenho dificuldade nenhuma para andar e consigo até correr (inclusive, com um pouco de dificuldade, consegui completar uma prova de corrida de 5 km).

Tive metatarsalgia

Ao longo desses anos depois da alta, tive alguns sustos. Em 2013, tive algo que pareceu neuropatia no outro pé. Tinha cometido um erro básico: usei o mesmo par de calçados apertados durante 3 dias em uma viagem em que andei muito, durante muitas horas. Isso fez com que as mesmas partes do pé fossem comprimidas e machucadas todos os dias e resultou em perda de sensibilidade na parte debaixo de dois dedos (o indicador e o do meio).

Eu morava fora do Brasil na época (em Genebra, na Suíça), então não pude voltar ao meu ortopedista da época da neuropatia. A médica que visitei lá confirmou que era uma lesão no nervo (dessa vez, um nervo na sola do pé), que ficou temporariamente disfuncional. Como ela achava que o Brasil era um mistério, lugar de doenças misteriosas, me pediu mil exames, entre eles hanseníase (que eu me lembro vagamente de um dos médicos ter descartado na época da neuropatia). Ela não conseguiu diagnosticar o que estava acontecendo, mas me receitou corticóides (Predisona) com dosagem decrescente para desinflamar o nervo. A maior parte da insensibilidade passou. A doutora quis continuar a investigar, mas o atendimento médico lá era muito caro e eu não continuei. 

Diagnóstico e tratamento da metatarsalgia

Depois disso, de tempos em tempos, principalmente depois de correr ou caminhar por muito tempo, de usar calçado muito apertado ou em dias muito quentes (em que meu pé incha dentro do tênis), eu sentia um pouco essa dormência. Meu ortopedista atual disse que isso é metatarsalgia e me receitou uma palmilha ortopédica personalizada que impede que isso volte a acontecer. Essa palmilha foi cara (cerca de R$ 600 na época), mas valeu a pena: usei por algum tempo e funcionou; parei de ter isso.

Tive fascite plantar

Em 2015, tive outra chatice: uma fascite plantar. Trate-se de uma inflamação no tecido que liga o calcanhar aos dedos pela sola do pé. No meu caso, aconteceu quando exagerei na caminhada/corrida. É uma doença bem pentelha, com o perdão do termo. O calcanhar fica doendo. Quanto mais você anda ou corre, mais intensa fica a dor, mas, mesmo descansando, não passa totalmente. Se a gente deixa pra lá, ao longo dos anos, a fascite pode desenvolver um esporão e a coisa fica mais inconveniente ainda.

O primeiro médico que procurei me passou antinflamatórios, 10 sessões de fisioterapia e pediu para eu parar de correr/caminhar até ficar boa. Disse que, em casos extremos, ele receita corticóide, mas não queria me passar ainda.

Fiz o tratamento, mas não passou. Esperei uns 3 meses em repouso, sem fazer meus exercícios que tanto gostava, e aí cansei. Procurei outro ortopedista, que me passou corticóide e mais 10 sessões de fisioterapia. Dessa vez, funcionou.

Na hora da alta, ele me liberou para correr/caminhar desde que eu alongasse a planta do pé muito bem, preferencialmente todo dia de manhã e antes do exercício também. Ele também me recomendou colocar bolsa de gelo no pé depois da corrida caso estivesse meio dolorido. De lá pra cá, voltei com meus exercícios e nunca mais senti a fascite.

Nem sei se fascite e a metatarsalgia tem alguma coisa a ver com neuropatia periférica, mas achei que valia contar, quem sabe alguém está passando por algo parecido.

Tive lesão no menisco e precisei operar o joelho

Por fim, depois da tal corrida de 5km, fiquei com uma dor no joelho e descobri que tinha lesionado o menisco (ô, pessoa zicada…). Dessa vez, não deu pra fugir da faca e precisei fazer uma cirurgia no joelho. Conto tudo nos posts sobre menisco rompido aqui no blog.

Salto alto depois de ter neuropatia periférica?

Muitas mulheres me escrevem para saber se consigo usar salto alto (que é uma das coisas que a gente não consegue nem a pau com neuropatia fibular). Essa é uma das limitações que a doença me trouxe. Eu até consigo usar salto, mas não por muito tempo (e não me sinto muito segura, pois se o pé vacilar e eu tropeçar, posso torcer o tornozelo e arrumar mais dor de cabeça). De qualquer maneira, eu aboli salto da minha vida e uso no máximo uma ou duas vezes no ano, em ocasiões em que preciso muito.

Quando a gente usa salto, bota todo o peso do corpo em cima da frente do pé, sobrecarregando os nervos e músculos da região. Para quem tem pés como os meus, isso é assunto sério e sempre que puder, vou evitar sobrecarregá-los. Se eu fico muito tempo de salto, meu pé fica fraco.

O que levo em conta na hora de escolher um salto alto

Quando eu uso, como na minha formatura do MBA (quando tirei essa foto), precisa ser algum modelo muito específico: palmilha fofinha, solado grosso (tipo anabela ou com salto quadradão, raramente fino e jamais salto agulha), salto baixo que prenda no peito do pé (se for solto, tipo scarpin, ele sai do pé, porque não tenho força o suficiente para manter o sapato preso). Sem falar que não pode ter nenhuma parte apertada, tipo dedinho, joanete, calcanhar. Como vocês podem imaginar, é quase impossível achar um sapato de salto que atenda a todas essas exigências e, além de tudo, que seja bonito e combine com o vestido.

Normalmente, opto por sapatilhas (confortáveis, sempre!) ou sandálias (rasteirinhas, papetes ou com salto baixo e grosso). Quando a ocasião é bem chique, tento achar algum modelo que tenha pedrarias, por exemplo, para compensar a falta de salto.

Mas a gente tem que respeitar os limites do nosso corpo. Nessas horas, a vaidade perde para a minha preocupação com a saúde. Nenhum Louboutin vale o risco de prejudicar meu pé e voltar (deusmelivre) ao pé caído.

Quais exercícios posso fazer depois da neuropatia

Eu tive neuropatia fibular justamente quando estava começando a gostar de corrida, lááá em 2007. Foi uma grande frustração ter que parar totalmente, na época. Nem andar direito eu conseguia, imagina correr.

Pois bem, depois de anos da alta, tomei coragem e me arrisquei de novo no mundo das caminhadas e corridas. Nunca consegui correr muito… Não sei se é por causa do pé, se é trauma misturado com medo de ficar mal de novo ou se sou eu mesmo que não me dou com corrida. Mas ainda aguento correr muito pouquinho. Alguns anos atrás, antes da pandemia, eu fazia com frequência caminhadas rápidas de 3km a 8km por vez. Tive o maior trabalho para escolher os melhores tênis de corrida e caminhada, mas encontrei uns bem bons (veja aqui minha seleção de tênis de corrida e caminhada femininos).

Na academia, conseguia fazer musculação, treinamento funcional, transport/elíptico e esteira. Também adoro fazer ioga.

Porém o melhor esporte de todos para mim é a natação, por ser uma atividade que não tem impacto no joelho nem nos pés.

Aprendizados que tive com a neuropatia periférica

Nestes anos todos, descobri algumas coisas sobre meu corpo.

Primeiro, que meus nervos são meio sensíveis, talvez expostos demais, e, se forem comprimidos por muito tempo (seja por sapatos apertados ou por sentar em uma posição ruim), me dão problemas. Uma médica me disse uma vez que é bom eu fortalecer os músculos porque eles formam uma malha de proteção para os nervos. Tem que ter cuidado pra não se machucar mais na hora de malhar, mas esse é um dos motivos pelos quais eu tento manter uma rotina de exercícios, ainda que moderada (infelizmente, nos últimos tempos, tenho falhado miseravelmente… mas quero voltar!).

Outro aprendizado foi que fisioterapia é um investimento que vale a pena. Não estou falando somente de dinheiro (apesar de ser custoso), mas também sobre o esforço que exige da gente. Fisioterapia é um negócio chato, repetitivo, demora a dar sinais de que está funcionando… Mas é fundamental para a recuperação. Vale a pena dar o seu melhor na fisio para se recuperar da neuropatia!

Os maiores aprendizados

Também aprendi que a gente tem que respeitar os limites do próprio corpo. Toda vez que tentei forçar mais do que estava aguentando, me dei mal… Não desisto, mas não forço. Vou devagar e sempre, sabe?

E, pra finalizar, a gente tem que tratar nosso corpo com muito amor e carinho. Estou sempre de olho no peso, busco os calçados mais confortáveis possível e respeito qualquer dor que eu sinta, sem ter vergonha de não aguentar tanto quanto outras pessoas. Esses são os pés (e joelhos e todo o corpo) que vão me acompanhar a vida toda. Tenho que cuidar deles direitinho pra não viver com dor nem ter minha mobilidade reduzida! Claro que tem coisas que são fora do nosso alcance, mas tudo que pudermos fazer para melhorar o bem-estar é válido.

Conclusão

Espero que esse post tenha sido útil e trazido algum conforto para você, caro leitor ou leitora que está passando ou passou por algo parecido. E lembre-se: sempre que tiver algum problema de saúde, procure um médico (ou mais de um, se quiser uma segunda opinião), siga o tratamento, faça fisioterapia com dedicação e se cuide!

Cíntia Costa

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  • Obrigada por apresentar esse conteúdo porque estou passando por isso agora. Fiz quatro meses de fisioterapia e agora estou fazendo hidrodinâmica e voltei a caminhar.

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