Está rolando uma campanha nas redes sociais que usa a hashtag #SouMulherVitoriosa para incentivar mulheres que são mães, esposas e que cuidam do lar a postarem fotos “para mostrar pro mundo que feliz é a mulher que tem uma #família e que que cuida do seu #lar“(grifo meu).
Por um lado, acho muito interessante incentivar que as mulheres com esse perfil mostrem orgulho e se sintam valorizadas. Mas acho péssimo que junto com o objetivo de valorizar mulheres do lar, a campanha está o de diminuir o valor das mulheres que vivem outras realidades.
Não é interpretação minha, não, são as palavras da Ana Paula Valadão, cantora gospel, citando a pastora que lançou a campanha (link do original aqui):
“A pastora Elizete está lançando uma campanha nas redes sociais para mostrar pro mundo que feliz é a mulher que tem uma #família e que que cuida do seu #lar. Mulheres Vitoriosas devem postar no seu Facebook, Instagram e Twitter, uma foto com a sua família (filhos e marido), ou uma foto com um avental, ou lavando louça, ou com o bebê no colo, enfim, uma imagem indicando que você cuida do seu lar e como legenda digite: A minha família é a minha prioridade! #FelizPorSerMulherEsposaMãeDoLar #SouMulherVitoriosa”.
Ficaram de fora do entendimento de “mulheres vitoriosas” as mulheres que são mães, que são casadas com outras mulheres, as que não são casadas, sejam solteiras, divorciadas ou estejam vivendo algum outro tipo de arranjo familiar, aquelas cuja prioridade é a carreira ou que não são as únicas responsáveis pelo cuidado com o lar. Me incomoda em especial a noção de que família é limitada a esposa, filhos e marido. Este modelo é o que chamam por aí de “família tradicional brasileira” e nem de longe engloba a diversidade de famílias que temos na sociedade brasileira. E as famílias sem filhos? E as famílias com só um pai, só uma mãe ou nem um nem outro (como famílias em que avós são os responsáveis pelos netos)? E as famílias com dois pais ou duas mães? E as mulheres que vivem sozinhas?
Cada mulher é livre para ser o que quiser e desempenhar as funções que quiser na sociedade. Como falei no post Qual o problema com o bela, recatada e do lar?, mulher que são mães, esposas e do lar são muito valorosas e vitoriosas. O problema está em achar que só elas o são e querer impor este padrão a todas pelo simples fato de sermos mulheres.
Por isso, proponho uma pequena correção a esta campanha. Convido a todas as minhas leitoras a participarem usando a hashtag #SouMulherVitorisa postando fotos de sua família (seja ela como for) ou de atividades e papéis de que tenha orgulho de desempenhar e/ou de objetos que fazem parte da sua identidade (seja lavando louça, cozinhando, segurando o bebê ou a colher de pau, como a cantora, ou também no bar com as amigas, no trabalho, em viagens, recebendo prêmios etc.). Coloque na legenda quais são as suas prioridade (pode ser “minha família”, mas pode ser também “minha carreira”, “conhecer o mundo”, “amar sem preconceitos” e por aí vai).
Vou começar!
Esta sou eu, com meu avental de boleira, com minhas maquiagens e acessórios que adoro, e exibindo a biografia da Maria da Penha, a mulher que deu origem à lei contra a violência doméstica que temos hoje no país, que representa meu feminismo e minha luta pela igualdade (da qual me orgulho muito). Não tenho marido nem filhos. Minha família são meu namorado, meus pais, meus irmãos e minhas sobrinhas. Sou uma ótima boleira e cozinheira de mão cheia, mas uma péssima dona-de-casa. Além disso, sou uma blogueira, publicitária e escritora muito competente. #SouMulherVitoriosa porque um dia eu entendi que meu valor não está nas minhas habilidades domésticas nem na minha carreira, nem nas roupas que uso e muito menos no meu estado civil. Eu sou livre e isso é minha vitória. A liberdade das mulheres é minha prioridade!