Sei lá como, caí neste vídeo. Ele mostra um grupo interrompendo uma aula na USP para falar sobre a questão de cotas raciais na universidade. Alguns alunos (brancos) ficaram irritados, dizendo que não era a hora de ter aquela discussão.
O cara que filma (branco) começa a dizer que é contra as cotas por achar que todos tem condições iguais de entrar na USP. Questionado, ele conta que fez colégio particular, que “papai ralou muito para pagar meu colégio e tenho muito orgulho disso” e ri enquanto uma das moças do grupo (negra) lhe fala que “primeiro vai ser mulher preta na periferia pra depois me dizer que é fácil entrar aqui”.
Esse tipo de discussão me embrulha o estômago. Não consigo manter o sangue frio enquanto assisto uma pessoa que se recusa a reconhecer seus privilégios tentando desmerecer o discurso de outra que vive uma opressão dizendo “para de se vitimizar”. Quando um cara que teve toda a condição de entrar numa faculdade pública vem querer se colocar em pé de igualdade com gente que não tem a menor condição. Ainda acusa o grupo de “intolerância” no título do vídeo dele…
Os negros e pardos são mais da metade da população do Brasil, minoria nas universidades e nos cargos de chefia nas empresas, e, ao mesmo tempo, maioria esmagadora nos presídios.
Você e eu, que somos brancos, temos o dever moral de não ignorar essa realidade. Como disse um dos rapazes do movimento, ali no vídeo, não tem hora pra falar de racismo – afinal, pra quem é negro, toda hora é hora de ser oprimido. O nosso papel, caras pálidas, é não fugir ao debate de medidas para corrigir essa situação.
Não tem nada mais baixo que, do alto dos seus privilégios, olhar pro outro e dizer “você está exagerando, não é assim”. Assume teus privilégios, parça, que você passa menos vergonha (e causa menos retrocesso).