Eu não tenho tempo, sabe. Estou todo dia correndo, num malabarismo maluco tentando dar conta do trabalho, do marido, da casa, dos gatos, dos amigos, dos projetos pessoais, dos frilas. Cada minuto, um trade off.
Ontem, cheguei mega cansada em casa, depois de um dia longo, e me joguei no sofá da sala pra curtir meia hora de marido vendo TV. E aí, assistindo A Liga, na Band, soube que a Zara, uma loja de roupas que eu a-do-ro, usa trabalho escravo na produção das peças. Tá tudo explicadinho nesta matéria: Roupas da Zara são fabricadas por escravos.
Isso me magoou.
Meus colegas aqui na agência acham que eu sou inocente, que toda empresa grande faz isso, esses porcos capitalistas e etc.
Mas continuo chateada.
Eu me senti traída por uma empresa que faz parte da minha vida, que entra na intimidade do meu guarda-roupa. É uma questão pessoal. De alguma maneira, a porra da Zara me fez participar de um crime. Eu paguei para pessoas trabalharem em condições de escravidão.
Eu mal tenho tempo de ir até a loja pra comprar as roupas que gosto quando preciso, quanto menos para ficar investigando as práticas de cada empresa da qual compro algum produto ou serviço. Eu confiei na imagem que vocês me passaram, de coisa séria.
E esse papinho de que foi culpa da terceirizada, desculpa, mas não cola. Eu não comprei minhas roupas da terceirizada. Comprei da Zara.
Pior de tudo foi a reação da marca. Fiquei torcendo para, no final da reportagem, aparecer alguém da Zara se mostrando indignado com a situação, dizendo que essa situação nunca tinha chegado a eles, mas que era uma situação terrível, com a qual a Zara não compactua de maneira nenhuma, e dizendo que seria lançada uma maratona para auditar todos os fornecedores da marca para garantir que esse tipo de situação não esteja acontecendo nem volte a acontecer. Alguém que me convencesse de que a Zara fosse uma empresa bacana, que pisou feio na bola em relação à auditoria, mas que realmente não compactua com isso.
Mas não. Ninguém queria se pronunciar, e, quando apareceu a diretora de compras, toda trabalhada no media training, disse que essa confecção foi uma exceção, que a Zara tem todo um processo de auditoria sério, ao qual este caso escapou. Ficou um clima “tomamos as providências, está tudo bem agora”.
Não tá tudo bem, Zara.
Eu só queria me vestir bem, não queria uma escrava de 14 anos costurando calças para isso. Desnecessário.
Como disse o Sakamoto, “tá começando a faltar lugar para comprar sem peso na consciência.”