Foto: Nick Shindo Street.
Estava aqui preparando um post para contar como posso eu, como cristã (convertida, praticante, temente a Deus, criada na igreja batista e bem educada em relação à Bíblia), defender a homossexualidade e homoafetividade dentro da igreja, quando li a notícia de que a Igreja Cristã Contemporânea abriu uma sede em São Paulo e lotou o templo no culto de inauguração (é a primeira igreja evangélica gay friendly de São Paulo).
Meus amigos postaram e comentaram a notícia chocados e tristes.
Pois usarei este gancho para lhe pedir que reveja seus conceitos, querido leitor cristão.
Existe algo chamado “teologia inclusiva“, que é uma vertente de estudos que, entre outras coisas, defende que a Bíblia não condena a homossexualidade, e que os versículos que o fazem foram, na verdade, traduzidos de forma equivocada das escrituras sagradas (tem muitas informações sobre a teologia inclusiva neste blog, escrito por um teólogo e pastor, e leva a reflexão pra muito além do “eu acho”).
Antes de gritar “heresia!”, de mandar “amarrar em nome de Jesus”, de dizer que é coisa do demônio e de apedrejar, eu rogo que você ouça o que eles têm a dizer…
Temos que admitir que, ao longo dos anos, a igreja, o Corpo de Cristo, já esteve terrivelmente errada e causou muito sofrimento a muitas pessoas ao apoiar o racismo, a segregação social entre pobres e ricos, governos repressores e até mesmo o nazismo e todo aquele horror do Holocausto (sem falar nas guerras santas dos primórdios do cristianismo, massacres vergonhosos).
E hoje em dia, em 2013, dentro das nossas igrejas, a homofobia tem levado à marginalização e, infelizmente, até ao suicídio de alguns irmãos que se descobrem gays. Não a homossexualidade: a homofobia. E a culpa pode estar sobre as suas costas. Já parou para considerar isso? Já parou para pensar seriamente que você pode estar em pecado diante de Deus?
Foi por conta de gente que se sentiu marginalizada e ousou discordar e contestar a igreja de sua época, como nosso tão admirado Martinho Lutero e seu quase xará e igualmente admirado Martin Luther King, que a igreja se desvencilhou de preconceitos hoje inaceitáveis e evoluiu na direção do amor e da inclusão. Também é isso que quer dizer o versículo “não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2) (tão usado hoje em dia para reagir a “modernidades”, mas tão pouco usado para olhar para dentro da igreja…).
Então eu lhes proponho esse exercício: orar a Deus pedindo sabedoria, abrir o coração e ouvir o que os cristãos gays tem a dizer. Sem torcer o nariz. Sem chamar de viado. Sem presumir que gays são promíscuos, pedófilos, pervertidos. Sem ter nojo. Sem sentir dó e desprezo disfarçados de “compaixão”. Apenas com o amor de Cristo no coração (lembrando que é esse o segundo maior mandamento, amar ao próximo como a nós mesmos, depois de amar a Deus acima de todas as coisas).
A Bíblia diz que a sabedoria de Deus é loucura aos olhos dos homens (1 Coríntios 1:25). E se os “loucos” da vez são estas pessoas, que dizem que o amor entre duas pessoas que tem o mesmo formato de corpo (que é essa a grande diferença da heterosexualidade e da homossexualidade, no fim) não é pecado e pode ser tão puro e abençoado quanto o amor que você tem pela sua esposa ou esposo? Que Deus os criou, os ama e os aceita como são, sem pedir que eles mudem? Que Deus se alegra quando eles se casam e formam uma família? Que nós devemos acolhê-los nas nossas igrejas de igual para igual sem considerar sua orientação sexual um mal a ser eliminado?
A Igreja Cristã Contemporânea é a mais proeminente comunidade de cristãos gays do Brasil e tem uma pegada pentecostal, mas não é a única denominação cristã que defende a teologia inclusiva. Se você não se identifica com a vertente pentecostal, pode ler o que dizem as outras muitas comunidades evangélicas, protestantes e até católicas que também a defendem, como a Gay Christian Network, o Padre Beto, a comunidade Apascentar.
Só pra fechar, vale lembrar que eu adoro comentários, sejam concordando ou discordando de mim, mas não aceito aqui no meu blog nenhum comentário ofensivo nem preconceituoso. Por favor, deixem sua opinião de maneira respeitosa – afinal, Deus tá vendo ;).