Ouviram a última do Mackenzie? A universidade publicou em seu site um manifesto contra o Projeto de Lei 122 (veja aqui o andamento e aqui a íntegra) que, se aprovado, tornará crime a homofobia.
No texto, o chanceler Augustus Nicodemus Gomes Lopes, líder da instituição mantenedora da universidade (Instituto Presbiteriano Mackenzie), se posiciona em nome da Igreja Presbiteriana do Brasil, “Associada Vitalícia do Mackenzie” (ínegra aqui):
“A Igreja Presbiteriana do Brasil MANIFESTA-SE contra a aprovação da chamada lei da homofobia, por entender que ensinar e pregar contra a prática do homossexualismo não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos, ao mesmo tempo em que minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados principalmente pela Carta Magna e pela Declaração Universal de Direitos Humanos; e por entender que tal lei interfere diretamente na liberdade e na missão das igrejas de todas orientações de falarem, pregarem e ensinarem sobre a conduta e o comportamento ético de todos, inclusive dos homossexuais“.
Acho engraçado ele dizer que pregar contra a homossexualidade não é homofobia.
Educar uma comunidade dizendo que é errado ser gay e que a homossexualidade não deve ser aceita dentro de casa ou do templo é a definição exata de homofobia. Preparar a comunidade para se escandalizar diante de um casal gay trocando um beijo no shopping é semear a homofobia. Dizer a um jovem cristão que se descobre gay que ele deve abandonar sua homossexualidade (?) e orientá-lo a viver uma vida dentro do armário (forçar-se a ser hetero) é, sim, homofobia.
Acho engraçado, também, essa atitude reacionária de tentar virar a mesa e se fazer vítima. Essa postura de dizer que a lei que criminaliza a homofobia cerceia meus direitos.
Quer dizer, tudo bem que os gays não tenham direito de oficializar seus casamentos nem adotar crianças. Tudo bem que não possam andar de mãos dadas em qualquer rua sem serem hostilizados. Que morra um gay a cada dois dias no Brasil vítimas da intolerância. O que não é certo é que eu não tenha o direito de dizer em alto e bom som que acho que eles estão errados e devem mudar.
Também acho engraçado esse argumento de que os gays não precisam de uma lei específica para protegê-los de preconceito, já que existe uma que garante os direitos de todos. Por acaso o chanceler é contra a lei Maria da Penha e lei anti-racismo, leis semelhantes que criminalizam o preconceito e a violência contra grupos específicos?
E essa de qualquer cidadão poder expressar suas crenças religiosas? Foram pessoas como o chanceler que defenderam a liberdade de expressar sua crença de que judeus e negros são cidadãos de segunda classe, baseando-se em passagens bíblicas, na época da escravatura e do Holocausto.
Agora, o que eu não acho nada engraçado é uma universidade conceituada publicar esse tipo de posicionamento homófobico para servir de “orientação à comunidade acadêmica”.
Aí vocês me dizem, Cíntia, o Mackenzie é uma universidade particular mantida por uma instituição religiosa. Tem todo o direito de se posicionar como quiser.
Por que, então, na hora de selecionar os alunos que pagarão quatro anos de mensalidades salgadas o Mackenzie não faz questão de se posicionar? Por que aceita ateus, gays, pessoas que fazem sexo antes do casamento?
Se dentro do Mackenzie o cristianismo parou no tempo, dentro das famílias de seus fundadores, a realidade é outra.
Eu, como tataraneta do reverendo Matatias Gomes dos Santos, um dos fundadores da Igreja Presbiteriana do Brasil que dá nome a um auditório do Mackenzie, venho aqui me manifestar a favor do PL 122, contra a homofobia, a favor dos direitos civis dos homossexuais e a favor de uma igreja inclusiva.
Foto: Gay Guide Toronto.
Update: todo Projeto de Lei é acompanhado por uma justificativa. A do PL 122, que se encontra no fim da sua íntegra, diz que “Não trata-se aqui de defender o que é certo ou errado. Trata-se de respeitar as diferenças e assegurar a todos o direito de cidadania.” Assino embaixo.