Pelados sem vergonha

Aquarela de Simon Goss retrata mulher nua.

Lembro de uma vez em que, nadando num lago em um acampamento, morri de medo de ficar pelada.

Eu usava algum biquíni vagabundo, desses que dão uma alargada quando molhados, e tinha que subir de volta na canoazinha em que estavam meus amigos. Havia grandes chances de, desengonçada que sou, deixar escapar um mamilo ou ficar com um cofrinho bem visível para todos. E a idéia de que um dos meus amigos pudesse me ver nua (ainda que fosse mera meia bunda) me deu um pavor nunca antes visto na história desse país.

Num fim de semana desses, a temperatura subiu aqui em Genebra e atingiu a casa dos vinte graus. Para um povo que enfrenta invernos abaixo de zero, isso é o novo Rio-40-graus.

Fui lá comer um fondue no Bains de Paquîs, um clube à beira do lago, e encontrei todo um grupo de pessoas “tomando sol” peladas numa área reservada para sauna e banho no lago. Por “reservada”, quero dizer que existia um controle para entrar, mas não havia paredes (e a parede da ducha era de vidro, os cara tomando banho de boa, olhando pro sol, com o pinto balangandando às vistas de quem passasse por lá). Homens, mulheres, gente nova, velhos, todomundonu.

Eu e a minha cunhada lá, disfarçando o riso que nem tontas na fila do fondue, procurando à nossa volta mais gente que compartilhasse daquele estranhamento, apenas para encontrar pouquíssimos olhares curiosos para nos fazer companhia. Já tinha ouvido falar que, aqui na Europa, ninguém estranha um peladão ou uma peladona em praça pública, mas achava que era uma lenda urbana…

Foi a mesma sensação que tive lá no Musée d’Orsay, quando saí de uma sala com quadros de Van Gogh e dei de cara com uma pintura bem peculiar chamada A Origem Do Mundo (vale a hashtag #NSFW, sigla para “antes de clicar, saiba que contém imagens de nudez bem explícita e pode ser melhor você não abrir no trabalho”). Todo mundo achando normal e eu pensando “mano!”.

Nunca tinha compreendido tão bem como a nudez é cultural… O povo sentadão lá, na beira do rio, curtindo um sol de boinha, em pele e pêlo, como vieram ao mundo, sem vergonha (e sem nenhum sem-vergonha por perto tentando tirar proveito). E eu, aqui, com ojeriza de um acidental cofrinho de fora.

EDIT: Aquarela de Simon Goss.

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