Categories: Feminismo

“Oi, princesa” o meu cu

Ando me preocupando com a minha saúde e minha forma, e resolvi que preciso praticar mais atividade física.

Moro perto da Sumaré, onde tem uma ciclo-pedestre-faixa, um corredorzão de uns 3km que muita gente usa – de dia e de noite – pra correr, pedalar ou caminhar.

Ontem, resolvi descer do ônibus no começo da avenida e continuar o caminho a pé. O Le foi comigo, pedalando. Às vezes a gente emparelhava e ia conversando, e algumas horas, ele ia pedalando até lá na frente e voltava.

Numa dessas idas dele pra lá, dois minutos desacompanhada foram suficientes para que dois homens mexessem comigo. Eram caras que, como eu, estavam lá pra fazer seu exercício diário. Dois babacas que acharam que “ah, que que tem comentar” e me aborreceram.

É claro que, quando estava acompanhada, ninguém me dirigiu a palavra. Esse tipo de homem sempre acha que deve respeito a outros homens, né. Nunca mexem com mulher que está com macho do lado, porque tem “dono”. Agora, se estiver sozinha, tá na pista. Saiu na chuva pra se molhar, saiu na rua pra chamar a atenção dos homens (afinal, que outro motivo uma mulher teria pra sair sozinha na rua?? Fazer exercício? Ir ao mercado? Se locomover do ponto A ao ponto B? Tudo desculpinha… A porra do mundo gira em torno do pinto deles).

O que eles não sabem (e que a maioria dos homens não entende sobre cantadas), ou não ligam, é que dão medo. Porque primeiro, levei um susto. Depois, tomei coragem e gritei uns impropérios.

Mas assim que acalmei, o primeiro pensamento que me ocorreu foi: melhor eu evitar andar por aqui sozinha de noite. Vai que tô andando por um trecho menos iluminado e um cara desses começa a me seguir? Vai que eu xingo e ele vem tirar satisfação? Credo. Isso sem falar que estragou minha caminhada, já que, dali pra frente, fiquei com receio de qualquer homem que passava por mim ser um babaca também.

Mas aí, pensei bem e bateu muita raiva. Por que é que aqueles dois indivíduos podem fazer seus exercícios de boas, a ponto de se sentirem à vontade pra importunar moças pelo caminho, e eu tenho que ficar com medo? Quem são eles pra me dizer quais espaços eu posso usar ou não na minha cidade?? Até onde eu sei, a plaquinha diz “pedestres e ciclistas”, e não “homens e ciclistas”.

Oras, que vão à merda os assediadores de mulher na rua.

Vou continuar me exercitando, vou continuar mandando tomar no cu, vou fazer escândalo se chegar perto demais. A cidade é minha também e homenzinhos de merda vão ter que engolir: vai ter mulher livre, sim!

Essa maldita cultura machista do medo não vai me limitar.

(E se você, rapaz de bem que me lê, tem esse costume e não tinha a puta idéia de quão inconveniente está sendo para as mulheres, aproveite a oportunidade pra parar com isso. Cantada de rua não é elogio, é assédio).

Foto: campanha babaca da BareMinerals em que rapazes seguravam placas com cantadas numa maratona feminina da Nike em Nova York.

Cíntia Costa

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  • Oi Cíntia. Ainda não tive coragem de correr/pedalar na Sumaré. Moro pertinho. Se vc for a noite, pode me dar um toque, a gente se faz companhia e intimida esses chatos do mundo.

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Cíntia Costa

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