Vamos falar de aborto?
Outro dia, uma pessoa muito querida e muito religiosa me perguntou no carro: “Cíntia, me explica O QUE VOCÊS QUE DEFENDEM O ABORTO PENSAM? Eu queria entender, de verdade”. Adorei a oportunidade de abrir o diálogo, e compartilho aqui com quem me lê e também queira ouvir/ler.
Em primeiro lugar, nós defendemos a descriminalização do aborto (deixar de ser crime, legalização), e não o aborto.
Isso porque a proibição do aborto não impede que abortos sejam feitos. Ela só faz com que seja feito de maneira clandestina e resulte em milhares de mortes e complicações para mulheres pobres.
Explico. Eu e qualquer mulher numa situação financeira como a minha, se um dia a gente quiser interromper uma gravidez, sabe que é fácil. Com grana na mão, você faz o procedimento numa clínica chique e resolve de maneira segura.
Já as mulheres pobres morrem aos baldes. No desespero de interromper uma gravidez indesejada, vão a clínicas clandestinas sem higiene, sem fiscalização. Se não são vítimas de golpe e assassinadas, correm riscos sérios no procedimento feito por gente que nem médico é. Outras tomam remédios de procedência duvidosa e sangram até morrer ou quase. As que sobrevivem, alguns médicos/enfermeiros moralistas denunciam pra polícia e chegam a ser algemadas na cama do hospital. A pessoa passa pelo trauma de quase morrer e é tratada como uma criminosa.
Então a legalização do aborto não vai aumentar o número de abortos realizados. Quem não quer ter filho de jeito nenhum dá um jeito. A legalização do aborto faz com que as mulheres parem de morrer por isso. É uma questão de saúde pública.
O combo é: EDUCAÇÃO SEXUAL PARA INFORMAR, ACESSO A CONTRACEPTIVOS PARA PREVENIR E ABORTO LEGAL E SEGURO PARA NÃO MORRER.
Abortar ou não continua sendo uma decisão pessoal. Se você pensa que interromper uma gravidez é pecado, não aborte. Mas não contribua para que uma mulher em situação vulnerável corra risco de vida só porque não quer ter filhos.
Também é importante frisar que a luta pela descriminalização é pelo aborto até o 3 mês de gestação. Aquelas fotos que circulam por aí de bebês perfeitamente formados ensaguentados não tem nada a ver com esta conversa.
É muito contraproducente levar a conversa para o “pq não se preveniu?”. Métodos anticoncepcionais falham (todos tem margem de erro). Você sabia, por exemplo, que antibiótico corta o efeito da pílula? Eu tomei por quase 10 anos e nunca, jamais, ginecologista algum me avisou disso. Nem mesmo quando eles mesmos receitaram antibióticos. Descobri numa mesa de bar, numa conversa de meninas.
Abusos podem gerar gravidez e é uma violência fazer uma mulher vítima de abuso sexual passar por 9 meses de gravidez fruto do estupro contra a sua vontade, é uma continuidade do abuso.
Acidentes acontecem – quem aqui nunca transou desprotegido? Aliás, como eu já contei aqui no blog, oque mais tem é homem pedindo pra transar sem casinha. Me pergunto se esses caras que condenam tanto o aborto são desses?
Pior ainda é o “tem outras opções”. Cada alternativa tem seu preço, e a mulher é a única que pagará por ele. Dar para adoção? Exige que ela passe 9 meses por uma gestação que não deseja, por mudanças no corpo, atraso na carreira, preconceito da sociedade e termine em um parto doloroso. “Ah, dá um jeito”. Por acaso você vai ajudar a criar? Vai pagar as contas da creche, da escola, do convênio médico? Vai estar lá para levantar de madrugada quando a criança ficar doente? Então quem tem que decidir se “dá pra dar um jeito” não é você, né?
“Se transou, tem que arcar com as consequências”. Filho agora é castigo? E mulher tem que ser punida porque faz sexo?
Ter um filho não é sussa, não é algo que “ah, aconteceu, segue o jogo”. Impacta a vida da mulher de formas muito sérias e nenhuma mulher deveria ser submetida a se tornar mãe se não o quiser (e muito menos ser morta ou presa por isso). Bem sabemos que homem nenhum é.
No fim, esses argumentos e essas discussões nada mais são que um julgamento dos motivos de uma mulher que você não conhece, que está passando por uma situação que você não sabe e, acima de tudo, que não lhe diz respeito.
Todos esses argumentos tiram o foco do real problema: abortos são e continuarão a ser feitos e legalizá-lo ajuda a evitar a morte de milhares de mulheres.
Defender a legalização do aborto é defender a vida.
Foto deste interessante artigo sobre aborto do ponto de vista do direito.
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