Parte da pauta da manifestação do primeiro grupo é o Estado laico e uma parcela infeliz das manifestantes achou que uma boa forma de se manifestar a respeito seria quebrando estátuas de Nossa Senhora e usando cruzes como objetos sexuais, sob os olhares escandalizados do segundo grupo.
Os dogmas da igreja católica são opressores? Sim, super, especialmente em relação à sua sexualidade e aos direitos reprodutivos das mulheres. Combinados com a política, então…
Mas desrespeitar símbolos religiosos sagrados para alguns, ainda que não signifiquem nada para você, é uma forma estúpida de protestar.
É o tipo de protesto que perpetua ódio, violência e intolerância – exatamente aquilo que o movimento feminista combate há tantos anos.
O que aconteceu ontem na Marcha das Vadias foi um grande erro.
Seios nus, um símbolo de uma mensagem de liberdade e tolerância em relação aos nossos corpos, agora circulam pela mídia (e se instalam no imaginário das pessoas) associados a mulheres com o rosto coberto com camisetas, como fazem os bandidos, quebrando tudo.
Uma pena…
Este é um post de repúdio. Não desfaz o que estas pessoas fizeram, não apaga as imagens vergonhosas dos jornais (e certamente não vai repercutir tanto quanto elas), não reverte a ofensa.
Mas, pelo menos, deixa registrado que estas pessoas não nos representam, estas imagens não nos retratam e nos repudiamos estes atos e quaisquer forma de violência, ódio e intolerância.
Claro que não posso falar por todas as feministas. Uma das características deste movimento é ser horizontal. Mas o feminismo é um movimento inclusivo, para católicas e atéias, para mulheres e homens, para todos que acreditam que as mulheres não devem ser subjugadas nem subtraídas de seus direitos por serem mulheres.
E eu, como uma pessoa de fé (ainda que não seja a fé católica), precisei deixar registrada aqui a voz do feminismo que diz “não” à intolerância religiosa.
Foto: daqui.
Update: Fica também uma recomendações de leitura de outra feministas e seu olhar sobre o ocorrido: Os santos que tem nos quebrado, de Bárbara Araújo no Blogueiras Feministas, de onde destaco um trecho: “Se podemos retirar da performance que foi acusada de intolerância religiosa (com razão, creio) alguma serventia, acredito que deva ser a percepção da seletividade das coisas consideradas como inaceitáveis pela nossa sociedade” (sobre como nos escandalizamos tão facilmente com quebra de santos e, em contrapartida, achamos normal quando uma prefeita cristã manda fechar um terreiro de umbanda sem mais nem menos).
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