Feliz Mês do Orgulho LGBTQIA

Estamos no mês do Orgulho “Gay” (já explico essas aspas aí).

Vejo gente torcendo o nariz e questionando o porquê do termo “orgulho”. O que tem pra se orgulhar em relação à orientação sexual ou identidade de gênero? Por que se fala em orgulho gay como algo positivo e em orgulho hétero como algo negativo?

Pois bem, acordei com vontade de falar do assunto.

Orgulho é o contrário de vergonha. As pessoas que não se encaixam no padrão heteronormativo são constrangidas, desde cedo, a sentirem vergonha.

O preconceito, seja fundamentado em religião ou não, aponta o dedo para quem não é heterossexual (sente atração por pessoas do sexo oposto) e cisgênero (se identifica com o gênero do nascimento) como um erro/pecado/tragédia/doença. Algo a ser corrigido, escondido, desaprovado, rejeitado, extirpado.

Acontece que, apesar das idéias preconceituosas e dos grupos que se esforçam para que elas sobrevivam na contramão do progresso, pessoas fora desse padrão heteronormativo EXISTEM. Sim, elas existem aos montes. E não são só os gays. Aquelas aspas ali na abertura do textão são justamente porque essa é uma generalização para um grupo muito mais diverso, atualmente designado pela siga LGBTQIA (lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexuais e assexuados, se não me engano).

Existem pessoas que sentem atração pelo sexo oposto, pelos dois ou por nenhum. Existem pessoas que não se identificam com o gênero do nascimento, e outras que não se identificam com nem um nem outro e ainda outras que transitam entre feminino e masculino. A diversidade sexual é uma realidade.

Por isso, o símbolo do arco-íris: a sexualidade humana e as questões de gênero são um leque cheio de variações (e essa salada de letras aumenta todo ano, para incluir alguma nova denominação de algum grupo diverso).

Para a pessoa LGBTQIA, a transição da vergonha que a sociedade lhe impõe para um sentimento de orgulho da própria identidade e sexualidade é uma revolução. Rejeitar esse preconceito e se aceitar como é, e se apresentar como é, viver como é e exigir o direito de existir como se é, isso é uma vitória.

Por isso existe o Orgulho LGBTQIA. Porque ninguém deveria sentir vergonha de ser quem se é. Enquanto houver gente oprimindo o diferente, haverá necessidade de bater no peito e dizer “eu rejeito a vergonha, eu tenho orgulho“.

Eu me incomodo muito, pessoalmente, com os amigos que sustentam seus preconceitos e fazem questão de defendê-lo com frases tipo “mas eu acho errado”, “não sou obrigado a aceitar”, “mas tá escrito na bíblia que é errado”. Ceis sabiam que tinha um grupo da minha igreja que ia à Parada “Gay” todo ano distribuir folhetos de “cura gay”? E que eu quase fui junto? Credo.

Eu me incomodo demais, primeiro, porque as pessoas LGBTQIA existem, independente de você acreditar que é certo ou não. E a existência delas não tem nada a ver com você, não é problema seu e você não deveria se sentir incomodado com a simples existência de pessoas a ponto de ativamente atacá-las com palavras, gestos e outras formas de violência.

Isso é uma forma de opressão disfarçada de “eu tenho direito a ter uma opinião”.

Se você é hétero e cis, está encaixadíssimo na sociedade e não tem ninguém te humilhando na rua por andar de mãos dadas com seu amor, por que sente necessidade de pentelhar o colega diferente de você? Que ameaça ele representa pra você?

O povo fala que gays ameaçam a tradicional família brasileira. Ameaçam como? Ceis tem medo de a parada gay baixar na sua rua, invadir o almoço de domingo da sua família, raptar as crianças, sodomizar os pais de família tudo, rapar o cabelo da mulherada? De anularem seu casamento hétero em obrigarem ela a casar com outra mulher e ele com outro homem?

“Ah, mas o que eu vou falar pro meu filho?”. Pra começar, você falando no assunto ou não, a diversidade continuará existindo e um dia seus filhos vão ter contato com ela. “Assim, meu filho vai achar normal”. O medo é o que, ele gostar e fazer igual? Se seu filho for LGBTQIA, você pode reprimir o quanto quiser que isso não mudará a realidade (a The Gay Christian Network tá aí pra provar que tem diversidade, inclusive, dentro das comunidades religiosas). Seu filho pode ter mais ou menos traumas, depende de quanto mal você faz a ele nesse sentido, pode viver escondendo de todos e de si mesmo, mas nada muda o que ele é.

Ninguém tem o poder de mudar a maneira como você pensa, aquilo em que você acredita. Se você acha errado alguma coisa, vai continuar achando e tem todo direito de achar. Mas não tem o direito de oprimir o diferente. O que a gente exige, e bate no peito com orgulho, e faz parada colorida, protesto e textão é: você não tem o direito de discriminar nem de espalhar o discurso de ódio.

E é por isso que o “orgulho hétero” é um troço medonho. Tem uma falsa simetria de ter o mesmo nome, mas é um movimento de pessoas privilegiadas, que nunca tiveram sua sexualidade questionada, reinvindicando o direito de olhar feio, de xingar, de ser escroto com uma pessoa que tá só querendo existir em paz e andar na rua sem tomar lampadada na cabeça.

Então, é isso. Sai pra lá com essa heteronormatividade, que o bloco da diversidade vai passar! Nossa bandeira é do amor, da tolerência e do não-enche-o-saco. Vem junto! <3

#HappyPride (ilustra linda daqui)

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