Do lado errado da fronteira

Syrian war art wall by Syrian artist Maysa Mohammed.
Você, um dia, escolheu qual profissão seguir. Lembra de como sonhou com o futuro? Trabalhou duro… Imagino que você se apaixonou por alguém em algum momento. Talvez tenha casado e tido filhos. Você fez amizades pra uma vida toda, se cercou de gente que te ama e que você ama. Você tem uma casa, um trabalho, uma família. Você tem a opção de ir às ruas protestar contra ou a favor do governo, de bater panela na janela ou balançar bandeirão no dia da eleição.

Eles também tem sonhos, família, amores. Mas, hoje, eles estão do lado errado da fronteira. Estão cercados de guerra, morte, fome e destruição. De governos opressores, de grupos radicais. Eles olham nos olhos de seus filhos e entendem: ou fogem ou morrem.

Eles pedem ajuda e os outros países gentilmente recusam, dizendo “sinto muito, mas não é problema meu”. Entendem que é uma questão política muito mais abrangente, que acolher refugiados tem impacto na economia e tudo mais. Mas isso não é nada diante da cara de fome do filho. Do sobrinho do vizinho que acabou de morrer num bombardeio. Do primo que empunhou armas e entrou pra um dos lados da guerra antes mesmo de terminar a adolescência.

Eles, então, entram em barcos tosquérrimos, botes infláveis abarrotados de gente, e enfrentam o oceano em fúria. Sabem que a chance de chegar em terra é diminuta. Sabem que, uma vez chegando, a chance de serem bem recebidos é risível. Alguns vivem anos e anos em campos de refugiados. Sabem que não há outra opção. E, por instinto de sobrevivência, estão cheios de uma esperança inexplicável por um futuro melhor. Qualquer coisa é melhor que ficar e morrer.

Hoje, abri o Facebook e lá estava a foto de um gurizinho refugiado sírio morto na praia. Ele é um de muitos, muitos. Muita gente que, como a gente, só quer viver em paz, amar e ser amado, prover para a família, ter uma profissão, um teto, gente querida por perto. Gente que não escolheu acordar do lado errado da fronteira.

Eu, daqui, pouco posso fazer. Mas tem duas coisas que estão a meu alcance. Uma é doar o que eu gastaria em um jantar para a Agência da ONU para Refugiados, uma das poucas organizações com força que trabalham para aliviar essa situação de merda, neste link aqui.

Outra é nunca permitir que meu coração deixe de se indignar com uma situação absurda dessas.

Imagem: mural pintado pela artista síria Maysa Mohammed, publicado na fantástica página from.sham.with love.

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