Lulu, um app de jerico

E o assunto da semana na minha timeline foi o Lulu, o tal do aplicativo pra celular em que as mulheres avaliam homens com quem ficaram, dando notas e atribuindo hashtags que o descrevam.

Não cheguei a ver o app (não encontrei pra baixar, pode ser por restrições de país), mas vi umas matérias com imagens de como é. Rapazes tem perfis criados sem saber (por uma brecha na política de privacidade do Facebook), com foto e nome completo, a média das notas recebidas e hashtags que descrevem a performance sexual do cara, o tamanho do documento, traços da personalidade e por aí vai.

Quase como um caderno de crítica gastronômica, só que com homens no lugar da comida. E como vocês bem podem imaginar, o negócio muitas vezes tem mais críticas negativas que avaliações positivas

Como sou uma blogueira feminista, me sinto compelida a registrar aqui a minha opinião: acho o Lulu um aplicativo totalmente desrespeitoso e, pardon my French, escroto.

Não vejo a menor graça nessa objetificação de gente, seja homem ou mulher.

É o fim da picada sair espalhando publicamente o que aconteceu entre quatro paredes num momento de confiança mútua (como eu  já falei no post sobre fotos íntimas que “caem na net”). É de uma falta de respeito sem fim, em especial, espalhar coisas negativas e ofensivas, com o puro objetivo de humilhar, uma coisa motivada por um sentimento de vingança de uma relação ruim, sob o disfarce de “alerta de cilada” para outras moças…

Tirando a idéia de jerico do ponto de vista jurídico que é usar foto e nome completo de terceiros sem autorização, ainda mais pra difamar.

Muitas amigas estavam dizendo que, por conta desse app, agora os caras estão sentindo na pele o que a gente sofre com o machismo, com as cantadas na rua, com os rapazes que “dão nota” pra gente na praia, que fazem comentários sobre a nossa bunda. É verdade, eles estão sentindo, talvez pela primeira vez, insegurança, medo, humilhação, sentimento de invasão – tudo aquilo que a gente sente quando é publicamente avaliada pela nossa aparência. Mas essa semelhança só reforça o quão errado e escroto esse Lulu é. Ele é tudo que nós detestamos. Não quero pra mim, não quero pra você.

Esse app seria perfeito se fosse um fake, uma ação de guerrilha para chamar a atenção para a objetificação da mulher. Mas infelizmente, não é.

Só de imaginar como eu me sentiria de ter meu nome e foto associados a comentários sobre meu corpo, às opiniões de gente com quem me relacionei, já me bate um mal-estar. Que horror!

E o pior: é o tipo de tiro pela culatra que vai é estourar pro lado mais fraco. Logo mais, bomba algum app que é o mesmo, só que com homens avaliando as mulheres. Tudo o que muitos caras já fazem vai começar a ser feito de maneira mais aberta e assumida, “já que elas é que começaram”.

Enfim, não vejo nenhum lado positivo aí…

Parece que já começaram a aparecer processos jurídicos contra o aplicativo. Acho é bom. Quero mais é que quem criou esse troço tome tanto processo que pense duas vezes antes de incentivar o julgamento público e a humilhação dos outros.

Bom, não posso falar no nome de todas, mas fica aqui registrado que pelo menos esta feminista aqui acha esse Lulu um app de jerico.

PS: se você encontrou um perfil seu por lá e quiser deletar, aqui vai o link.

Foto: divulgação (sim, amigos, os criadores desse troço tem coragem de soltar “fotos de divulgação”…).

2 thoughts on “Lulu, um app de jerico

  1. O aplicativo é idiota. Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, IMO ele pode sim servir para os homens entenderem melhor que objetificação nunca é legal. Mas claro que temos que escolher bem o tom que vamos usar: o de revanchismo (“bem feito, tá vendo como a gente se sente?”) não vai mesmo fazê-los repensar muita coisa, enquanto compaixão e empatia (“você tem razão em se sentir mal com isso, nós mulheres sabemos que objetificação é uma merda”) podem despertar a própria compaixão e empatia deles para conosco.

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