Ao longo desses meus quatro anos de casamento, alguns casais de amigos meus se separaram. Para uns, a coisa foi feia, teve briga, escândalos, decepções e essas coisas traumáticas. Com outros, foi amigável: acabou a vontade de continuar juntos e cada um foi para um lado sem perder a amizade.
Cada caso me faz pensar. Não só no meu relacionamento, mas no conceito do casamento.
Cresci na igreja, onde casamento é tratado como coisa séria – e talvez séria demais. A gente aprendia (e estou citando as palavras que ouvi) que namorar tem que ter como finalidade casar e que casamento tem que dar certo de qualquer jeito. Separar é considerado um fracasso de tentativas.
Alguns dos meus amigos que passaram por um divórcio são da igreja também, e me pareceu que um dos motivos foi que, depois de namorarem tanto, a “coisa certa” a fazer era casar. No dia a dia, a convivência e as expectativas do que cada um espera do outro (normalmente altas, principalmente em relação aos papéis que cada um acha que uma boa esposa ou um bom marido tem que cumprir, que são diferentes dos papéis de bom namorado e boa namorada) começaram a pesar e, em pouco tempo, o casamento passou a ser uma frustração.
Houve outras separações por outros motivos. Casamentos que foram virando amizades sem paixão, gente que mudou e não se encaixava mais naquele relacionamento, gente que quis algo (ou alguém) diferente.
Escrevo tudo isso não para condenar ninguém, nem para dizer qual é a fórmula do sucesso ou ainda para dizer que o meu casamento é diferente, mais forte, mais certo. Muito pelo contrário.
Em vez de me deixar levar por aquela atitude meio arrogante que vem nos tentar a cada notícia de divórcio, pensando “eu faço meu casamento dar certo, eles devem ter feito algo errado”, ou “comigo isso não vai acontecer”, percebi que meu casamento é tão real como qualquer outro.
Não é frágil, porque é construído sobre bases fortes de amor, confiança, respeito e admiração. Mas não há garantias de que vai dar certo sempre: se a gente deixar de cuidar e cultivar, se deixar de ter motivos para dividir a cama no fim do dia, pode vir a não fazer mais sentido…
Acho que o que estou tentando dizer é que percebi que o casamento é construído dia após dia, requer cuidado, cultivo e dedicação, e não pode ser considerado um “ponto final”.
Penso que separar não é, de maneira alguma, um fracasso. É uma decisão para aqueles para os quais ficar junto não traz mais nada de bom e pode ser a melhor decisão a ser tomada para o casal parar de se fazer mal.
Afinal, um casamento que “dá certo” não é aquele em que duas pessoas estão presas uma à outra, sem “desistir” nem “sucumbir” ao divórcio, mas aquele em que a gente fica porque quer estar juntos.
E é isso que busco manter e nutrir no meu casamento: a vontade de estar juntos hoje e amanhã, de agregar coisas boas à vida do meu marido, de fazê-lo feliz e de receber isso tudo de volta.
Quero chegar aos 80 anos de casada não como quem ganha uma árdua prova de resistência, mas porque houve motivos durante 80 anos para continuar juntos…
Foto: Inmagine.