É só de brincadeira

Aí que saiu no jornal que rolou um tal de Rodeio da Gorda na UNESP.

A brincadeira era assim: durante a festa da faculdade, o rapaz tinha que se aproximar de uma menina gorda (quanto maior, melhor), agarrá-la e sussurrar na orelha “você é a coisa mais gorda que já vi” e tentar segurar a moça em fúria pelo maior tempo possível, fingindo que ela era um boi de rodeio. Quem ficasse mais tempo em cima, ganhava. Tá tudo explicadinho aí na comunidade do Orkut que fizeram pra reunir os participantes.

Vai, admite que você não achou engraçado? Principalmente quando lê que os amigos do “peão” berravam “pula, gorda-bandida“?

“Era só brincadeira”, falou um dos autores do divertidíssimo jogo, que fez até comunidade no Orkut pra reunir os participantes.

Claro que é brincadeira. É engraçado ver uma menina gorda se contorcer como um boi de rodeio, vai.

Tortura em Abu Ghraib
Brinks!!

Sabe o que também é engraçado? Jogar ovo podre da janela do seu apê nos mendigos e putas que passam na rua. E botar fogo no mendigo que está dormindo, pra vê-lo acordar desesperado, correndo pela rua? Hilário. Deixar presos muçulmanos pelados, com um saco na cabeça e uns cachorros latindo enquanto eles fazem poses sexuais uns com os outros, o que é pecado na religião deles, e ainda tirar umas fotos fazendo um joinha pra mandar pros amigos? De chorar de rir.

O preconceito engraçado é o pior de todos. Porque é tolerado pela sociedade. É passado pra frente. É cometido sem culpa.

Mas eu não vejo diferença no comportamento dos peões do Rodeio da Gorda do dos guardas de Abu Ghraib ou dos assassinos do Índio Galdino. Estamos falando de níveis diferentes de violência, ok, mas a base é a mesma: humilhar os outros para a própria diversão.

Pra mim, é a mesma coisa.

Update: O Ministério Público abriu um inquérito pra apurar o ocorrido e ver quais são as punições cabíveis por lei. Mandei um e-mai revoltadinho pra reitoria da faculdade (os e-mails deles estão aqui) e o vice-reitor, Ivan Rocha, me respondeu que “faremos todo o possível para apurar os fatos e aplicar a lei cabível para um gesto de tamanha irresponsabilidade e desrespeito.”

Update 2: segundo notícia do G1, em outubro de 2011, dois dos três envolvidos fizeram um acordo com o Ministério Público e “tiveram que doar 20 salários mínimos em cestas básicas, cada um, para três instituições assistenciais e escaparam do processo”. O terceiro se recusou a fazer acordo por não se considerar culpado de nada e sua condenação, divulgada pelo MP no dia 14 de maio de 2013, foi pagar 30 salários mínimos (equivalente a R$ 20,3 mil) de indenização por danos morais (o dinheiro será pago a um fundo de reparação ligado à Promotoria).

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